Tuesday, September 05, 2006

" CAMINHANDO PARA O MEDO... "




















Hoje, enquanto caminhava sobre a areia fresca, uma criança abordou-me perguntando: " De quem é o mar?... " E em antes que eu pudesse responder-lhe, a criança fugiu, correndo em direcção contrária... será que se eu lhe dissesse que o mar é de todos, ela acreditaria em mim?...
Penso que sim... pois só os adultos duvidam da verdade agradável... de súbit
o, o poeta, quebrando aquele breve momento terno, indagou:

" Para onde vais?... "

- Não sei...
Sigo apenas na espiral,
Desprezando o conformismo...
NADA DE PARAR!...



















" O idêntico e o inseparável

Não se adaptam á tua consciência? "

- Não!...
Por isso sei que o meu relógio
SÓ PÁRA UMA ÚNICA VEZ!...
Por isso mesmo ainda,
ODEIO A NOÇÃO DE ETERNIDADE
Pela simples razão
De qualquer tipo de limite
Estar infalívelmente ao meu alcance.



















" O que é para ti a eternidade? "


- O que é?...

" Será realmente
- A IMAGEM MÓVEL DO TEMPO -? "

- Aí está uma frase
Extraordinariamente bela,
Mas essencialmente poética!...
Meu caro:
SÓ NA MATÉRIA EXISTE MOVIMENTO!
E para cá disso,
NÃO HÁ
Qualquer tipo de imagem no tempo.

" Mas trata-se da IMAGEM DO TEMPO! "














- Qual imagem!?

O TEMPO É INEXPRESSIVO.

" Como explicas isso? "

- NÃO TEM APARÊNCIA.

" Nenhum objecto é imóvel? "

- Só a eternidade o poderá ser...
ESSA AUSÊNCIA TOTAL
FECHADA!...














" No que acabo de ouvir

Algo me deixa confuso... "

- De que se trata?

" Para já, uma pergunta:
Tempo e eternidade
São a mesma coisa? "

- Não!...
Dum objecto a outro
O TEMPO PÁRA



















E A ETERNIDADE NÃO...

Ou melhor:
NÃO TEM MOTIVO PARA ISSO!...

" E porquê? "

- PORQUE A ETERNIDADE É IMÓVEL,
E simultâneamente
É EXTERIOR AO HOMEM!...

" Ai de mim...
É imprescindível recorrer ao espírito... "















- EI-LO

Subindo á preia-mar...
Á TERRA-CÉU
Da tua breve alegria...

" Alegria?
Porque será que não a vejo? "

- Por ser transparente.














" Então é isso ser breve... "


- Vai... vai...
Vai nele,
No espírito,
Nessa tua incolor alegria...

" O que é isto que sinto? "

- A par dessa mansidão inconsciente,
A natureza quase se desfigura
Num suave flutuar,














Ante a visão inesperada

No teu interior desse meu sentir.

" E que poderei compreender nessa linguagem? "

- A que te referes?

" AO INTERIOR DESSE TEU SENTIR... "















- Quero dizer que a minha sensibilidade

Não envolve aquilo que penso...

" Não percebi ainda!
Explica-me como se eu fosse muito burro... "

- Pois bem...
Aquilo em que penso
NÃO ESTÁ EM MIM...
Únicamente o que está,
São as palavras:
REPRESENTAÇÕES DAQUILO EM QUE PENSO.



















" O que se passa contigo? "


- Neste momento
Não sei o que pretendo dar-me,
SÓ SEI
Que continuo a ter horror
A todo o significado!...

" E então? "

- Gostaria de poder pensar
Fosse o que fosse
Sem me limitar:
Toda esta curiosidade
Jamais deveria ser interrompida,
Mas o prazer de a saciar
A limita...
Por outro lado,
Também não faz mal!...
O que é necessário
É fugir a determinismos metafísicos...
A essa maldita crença!...
O MEDO...














" Em ti existe o medo? "


- Naturalmente que sim.

" Mas porquê? "

- Porque entendo
Não só pela minha insignificância,
Mas também pela força exterior
Que sei
Ser mais forte que eu.

" Então, inconscientemente
Diriges-te para o medo... "



















- Sim...

Ele é a causa,
O COLOSSO
Que me conduz.

( Uma música:
Emotions wound us so -
- LARRY CARLTON - do album LAST NITE. )



Pain-Killer

6 comments:

naturalissima said...

O MEDO!
Eu tenho medo de ter medo!
Ele impede-me de VIVER! De ser FELIZ! De realizar os meus sonhos.

Miguel, mais um dialogo interessante e complexo.
Gostei bastante. Ajuda-nos sem dúvida a pensar.

Um beijo

Vanda said...

O que é o medo?

A star van ainda tem a bagageira cheia e os pneus meios em baixo :)) do peso das malas :))

um beijo, Copinha!

Van

Vida said...

Por momentos senti-me a ler o Principezinho, talvez pelo mesmo género de excelente diálogo. Vou levar um bocado a digerir e voltar a ler. Não gosto de ter medos, mas eles existem sempre. Adorei...

Beijinhos.

P. Guerreiro said...

Como sempre é um prazer ler-te e ver-te nessas viagens interiores que propõem soluções, criam dúvidas e desenterram antigas questões.
“Noção Espaço-Tempo
A constância da velocidade da luz para todos os observadores tem como consequência que as medições de espaço e tempo não são independentes. Dito de outra forma, não mais podemos falar de um espaço e de um tempo, mas do espaço-tempo como um todo.”
Autor(es):
João Seixas
Como vez fizeste-me ir pesquisar…Mas os conceitos poéticos de espaço, tempo e eternidade colocam-nos perante diversos caminhos.
No fim o medo, também esse é um caminho.
Um abraço Miguel!
P.S. Obrigado pelas visitas e pelos comentários. Tempo livre também não é o meu forte neste momento.

naturalissima said...

Excelente e sempre um dos melhores que por aqui passam a fazer comentários, o nosso amigo P.Guerreiro...

Miguel Baganha said...

Sem dúvida, Dani linda!
Os comentários perspicazes e profundos do nosso amigo Guerreiro, além de revelarem uma grande sabedoria, são os que melhor interpretam aquilo que me vai na alma... numa ou noutra altura já conseguiu ser exímio, exactamente correcto na leitura que faz.
Este último comentário é uma prova irrefutável disso mesmo.

Um peixinho grande, Dani she... e obrigado por te manifestares tão sinceramente como é teu hábito.

GMT, amiga linda ;-)