Thursday, December 02, 2010


BUSCANDO NAS PALAVRAS
UMA ESPÉCIE DE RAZÃO


"Gostaria de saber quem somos..."

- Primeiramente, alheios ao futuro.














"Quem somos?...
Serei eu, o acaso?"

- Tu és a coincidência
(sem nome para mim) inexpressiva.
Contudo, estamos por nossa causa...


















"Um pelo outro?"

- Pelo outro!
Em círculo,
Por cima do lago,
Por cima do sonho.














"Por cima de tudo?"

- Como se tudo fosse
Sem mais nem menos...














"Assim?"

- E sem razão alguma,
Sem hesitação.

"A vontade aqui não existe?"














- Se existisse,
Pressupunha uma esperança!...

"Como foi possível
Chegarmos a este ponto?"

Pensando bem, sinto que não chegamos a lado algum...aliás, nunca se chega nestes casos. Tudo está estando, e muito antes de qualquer iniciativa, até porque a iniciativa não é, não está, nunca esteve.

"Tudo é leitura, sequência?"
















- Tudo é visão impensada,
Como acontece no poema da
"
.

"Seremos um só
Após a decadência do vulgar?"














- Quem sabe...
Mas voltemos a nós...

"Vamos com as palavras?"














- É melhor,
Nelas há sempre um jogo,
Uma espécie de razão.

(Um tema: "SONG FOR A FRIEND" -
Parte I e II - Billy Cobham)

Boa semana!

Pain-Killer

Thursday, November 04, 2010


"IMPRESSIONISMO
"


















ESTE...

É o poema tingido

De luz e de cor...

De sangue escondido

Na carne em flor.


Aqui não há tragédias!

Há só apenas

Uns místicos sabores...

Uns mórbidos sorrisos

Num palpitar de cores.


ESTE... sim!

É o poema encarnado,

Mais vermelho que o vermelho!

É o poema da rosa

Em frente ao espelho.

Ruy de Portocarrero

Tuesday, October 05, 2010


SOBREVIVER

PARA NÃO FIC
AR PRESO NO ACASO



Esta tarde, o poeta foi de novo procurar-me no meio da cidade. Cada rosto reflectia indistintamente a expressão de um outro ao cruzar-se com ele. Os estigmas entrechocavam-se, repelindo-se. Noutras ocasiões quase se fundiam em associações diversas, sem contudo deixarem de ser repetitivas, - para que ele se afastasse mais de mim?, não, claro que não! - porém, uma coisa é evidente: é verdade que as pessoas ignoram o melhor que têm.

"Que dia horrível!...
Hoje é um daqueles dias..."














-
Sim! É um daqueles dias
Em que é conveniente sacrificar
Qualquer coisa...
Por isso sinto um terrível ciúme!...














"Ciúme?!..."


- É uma antipatia,
E em simultâneo
Convicção...
E a verdade é que esta vida
É perturbada por uma entrega total...
Um autêntico desassossego.


















Depois,

No todo desse homem incompleto,
A arte dá-nos o que nos dá...
E pelos conceitos,
Pelas fórmulas...














"Pelos convencionalismos?..."


- Pela experiência
Transformada em cultura...
E sem poder estar fora
Não me vejo dentro!...














"Onde estás, então?"


- No insolúvel.
E concluo até ao nada,
Que o próprio nada
Pode ser explicado por palavras...














"É bom que assim seja!..."


- Já não vale a pena rir...

"Tudo isso equivale a quê?.."

- Ao desacordo!...














"Não só..."


- Antes de mais,
Lê isto...


















"Isto?..."


- Sim...

Isto não é a intenção de me calar:
Em certo prisma é uma sobrevivência...
E sobreviver
É refugiar-me na exigência
De não querer ficar ...


















"No acaso?..."











- Precisamente.


(Um tema: "CONCERTO D'ARANJUEZ" -
- do álbum: Jim Hall Concierto)

Boa semana!

Pain-Killer

Friday, September 03, 2010


TE
NTATIVA DE FUGA



Lá de cima, o poeta viu as pessoas dentro de mim, e para cá do jardim entre cores expostas, estava vivo ainda o dia anterior. Só que não coincidia. Em certo prisma, ele analisou as pessoas superficialmente, desde a sua inocência até mim, ignorando que elas próprias trazem unicamente uma ideia de futuro mal definida dentro da cabeça.

- Poeta!

Porque estás inquieto?














"Eu?"

- Nota-se...

"Sim...
Tenho um problema, mas..."














- Que problema é esse?

"Deus..."














- Explica-te...


"Não tenho a certeza..."


- Tem cuidado,
Descrer
É ficar surdo
Na exposição do acaso.


















"Acaso?!...
Disseste acaso?"

- Não tem importância,
Posso dizê-lo.

"Porquê?"

- O acaso não coincide...
É coisa informe.
Poeta!
Onde estão os ateus?
Que se mostrem!...















"Para quê?..."

- Será que não percebeste?
Não existem!


"Como explicas isso?"

- Como explico?
Não vês que chamam ateu
A todo aquele
Que não tem certeza
Da existência de Deus?...














"Mas eles têm!..."

- Dizem que têm!
Como vês,

Ateu

É uma palavra que não coincide!
Daí a minha frase:
Que se mostrem!...















Sim...

Mostrai-me a vossa certeza.

"Acaso...
Porque não?"

- É anti-lógico!...


















"Achas que sim?...
Mas pelo menos
Eles procuram a tal razão
E justificam a insistência da procura."

- Desgraçado!
Justificam o quê?!...

Não vês que essa insistência

Só poderá achar o absurdo

De todo este equilíbrio?









De tudo quanto há de mais
Simét
rico












Aju
stado









Concre
to









Inq
uietante









Con
veniente









Racional










Numa desord
em organizada
Cuja responsabilidade
Para esses indivíduos terá de ser casual?...

E agora observa:

Disto tudo

Extrai-se uma só coisa...

"O quê?"


- O todo
Do Homem incomp
leto.
E depois o que sei
,
É que nisto tudo,

Nesta infalível matemática filosófica,
Se encontra
o maior de todos os absurdos:
Aquilo que carece de
sentido
E que transcende tudo
Quanto ainda é humano,

Só porque é humano.


















"O melhor
Será abandonar essa ideia."


- Não!
Não se pode fugir

Do Universo do Homem...


"E porque não?"















- Porque se é Homem.


(Um tema: "FOR TURIYA" do álbum Folk Songs -
Jan Garbarek, Charlie Haden, Egberto Gismonti)


Bom-fim-semana!


Pain-Killer

Tuesday, August 17, 2010


MUDANÇA DE CLIMA



Está um final de tarde abafado, estático e turvo. Eu sinto-me bem mas o poeta sugere que me vá embora. Então, volto-me para ele e faço-lhe lembrar o que penso:

- O meu relógio não parou!
Já não são três horas,
E mais:
Pelo menos, sempre que quero
Faço o que penso...
Mas o que interessa
É ter maneira de substituir
O que já não se quer.

" Vamos embora!... "

- Espera mais um pouco...
Vistas bem as coisas,
A verdade é esta:
Quando já não se quer,
Alguma coisa surgiu
Dando lugar à substituição.














O poeta estava certo:
Acho preferível - disse para comigo: - pegar nos sapatos e sair da praia.

Boa semana!

(Um tema: "THIS COULDN´T BE THE REAL THING" -
- Versão de: Carl Tjader)

Pain-Killer

Tuesday, July 27, 2010


UMA HISTÓRIA SEM DIA



"Lembras-te do dia de ontem?"

- Lembro-me de qualquer coisa,
De ontem não!...

"Havia um tom claro,
Baço..."


















- À mistura
Com um toque de laranja,
Na qual a luz
Fôra mais do que o indispensável...

"Mas logo se tornou
Num dia vulgar,
Um dia cinzento..."














- Lembro-me dessa cor,
Desse dia não!...

"Um dia sem História?"

- Uma história sem dia,
Ou talvez
Um momento de passagem
No rosto das pessoas...














"Uma história fácil?"

- Coisa simples.

"Uma débil claridade
Surgiu entre as nuvens baixas,
Lembras-te?"


















- A chuva suspendera a queda livre...

"Algumas poças na rua
Serviam de rio às nuvens...
Dum momento a outro
A claridade acentuou-se:
Os rostos animaram-se...
Adivinhava-se facilmente
Que o Sol andava por ali..."

- Sim?...

"Depois, o arvoredo
Tingiu-se dum verde mais vivo..."














- Havia outros tons...

"Eram manchas...
Eram nódoas
Espalhadas pelas árvores."

- A partir de certa altura,
A ausência era flagrante!...














"Facilmente se saberia
A proveniência daquele cintilar..."

- Nalgumas folhas,
Brilhava ainda
Essa esperança ténue...

"Sim!...
Era um dia cinzento
De fim de Fevereiro,
Um dia sem História?..."


















- Uma História sem dia,
De simplicidade esboçada
Nos olhos de qualquer pintor.

(Um tema: "LEFT ALONE" -
- Versão de: Archie Shepp/Dollar Brand)

Boa semana!

Pain-Killer

Thursday, July 01, 2010


EXPOSIÇÃO COLECTIVA

Pintura, Gráfica Original e Objectos

"QUE EFEITOS PRODUZEM AS CORES ?"

Artistas convidados: Maria Pilar Abril, Miguel Baganha, Alexandra Barbosa, Célia Bragança, Daniel Bilbao, Joaquín Capa, Rafael Canogar, Ming Yi Chou, Francisco Farreras, Sonia Higuera, Clara Menères, Mª Luisa Sanz, Pérez de Vargas.

De 15 de Julho a 14 de Setembro de 2010 na

Galeria PROVA DE ARTISTA

Sunday, June 06, 2010


ANCORADO NA LIBERDADE







Neste instante, ressalta-me viva a razão prioritária: sinto que o Homem jamais se libertará duma preocupação.

"Onde queres chegar?"

- Antes de mais,
Refiro-me àquela preocupação
Que atende deliberadamente à 
Sobrevivência.
Enquanto que os problemas da
Liberdade
Serão durante muito tempo

Aqueles acessórios como a

Moral,
O amor
E tudo o mais

Que a ele se agrega.
E tais acessórios,

Actuarão, por sua vez,
Como pretexto da causa principal.
















"Qual é o segundo sentido
Desse ponto de vista?"


- Nenhum!...
Digo o que digo,
Não por uma questão ideológica,

Mas antes

Por uma reacção que permanece

no fundo da consciência humana.















Resta saber se algum dia
Ela conseguirá emergir.

"Não...
Não quero ser Homem."


- Jamais serás...

Ainda quanto à liberdade:
Essa bandeira invisível

Que se agita nos corações,

Nem utópica é!...















"Não?"


- O exemplo é-nos dado pelos frutos
Em suas belas árvores:

Eles só se libertam

Quando se desprendem por si,

Mas quando caem

Já vêm mortos.

"Não é bom ser livre!"















- Assim parece, poeta...

No entanto, o mais importante

É ancorar no sítio certo.


(Um tema: "THE WISH" -

- Chick Corea)


Boa semana!


Pain-Killer