Sunday, November 26, 2006

" A VIAGEM... "















( Foto de: Daniela Rocha )

" Porquê esse sorriso?... "

- Estou a recordar...

" O quê? "

- A estação de comboios.










A estação era... era naquilo ali em frente.
" Naquilo, como? " Perguntou o poeta meio intrigado. Frente a isto, nada lhe disse: " O silêncio ajudá-lo-á... " Pensei. Quando assim acontece, ele sabe que mais tarde encontrará a resposta.
Voltando á estação; concluo uma vez mais: Sempre que deparo com uma coisa daquelas, desperta em mim uma sensação esquisita, vagarosa...
Lá dentro, não se tem nunca a mesma idéia. Aquilo, no seu interior é um páteo a dar acesso á mudança.















Com um objectivo definido, entrei. Havia gente chegando mais cedo para esperar. O movimento, eram linhas cruzadas em várias direcções. Então, pensei: " E se eu não fôr hoje? " Esta dúvida, significava alguma coisa, com a sua linguagem cá dentro. Essa coisa sabia atraír-me ao seu jogo: o comboio era o pretexto, e eu entrava nele.













Através da janela, deixei-
me olhar... tentando ir ao encontro das coisas. O fadário começava: Primeiro um poste, depois o casario, tal como o comboio em direcção inversa. Havia gente parada, enquanto o pensamento andava de um lado para outro. Os pensamentos eram como folhas soltas, dispersas pelo vento.













Gente parada, seguindo como as árvores para lado nenhum. Deixei-me estar, eu sabia que a Coisa já tinha dado por mim...

" A coisa!? "

Entretanto, Ela ligou-me:














" - Olá, tudo bem?...

Eu já cheguei... e tu, vais demorar? "

" - Tudo bem... já não me sinto apavorado...
Agora estou apenas com medo...
Ainda falta um pouco, minha querida...
Mas sossega, vou a caminho e não tarda estaremos juntos.
Estás nervosa?... "

" - Hum-Hum... " Retorquiu Ela.

" - Um pouco ansiosa, talvez...mas isto passa...
Vou esperar por ti, míudo...
Um beijo... até já! "

Enquanto isso a paisagem espreitava-me de todos os lados, trazendo-me á memória a delicadeza do seu rosto, o encanto do seu corpo belo e doce, que as minhas mãos tantas vezes tinham tocado através de sonhos...













" Mas que Coisa era essa? "

- De momento,
Só sei que excitava...

" E depois? "

- Sabia que iria massacrar-me
Com os seus pensamentos,
Por isso
Disfrutava o mais que podia.

" Disfrutavas, como? "

- Tirar partido o quanto antes
Daquela janela...












" Vêr côres? "

- Vêr gente,
Movimento,
E sobretudo Luz...
Porque pensar é horrível!
Verdadeiramente,
A minha intenção
Era servir-me da memória...

" Mais nada? "

- De momento,
NÃO PODIA FAZER MAIS NADA!
Por esta razão,
É que ás vezes aceito a idéia
De que não preciso pensar por mim...
Apesar disso,
Acabo normalmente por controlar-me...
É uma chatice!














" Não compreendo porque não me levaste... "

- Pois não...
Talvez, porque o ser
No ser
Não tem contornos,
Não se mostra como imagem:
O ser
É O QUE É,
É o contorno da imagem
ORGANIZANDO-A.













" Com quem falas? "

- Estás atento...

" Com quem falas? "

- Cala-te!...
Ele,
Na medida em que é pensado
Deixa entrever que o Homem
É no pensar...
O PENSAR
Da verdade do ser,
Que questiona
Em ser para ele
A objectividade do subjectivo...
De ser
O SER NO HOMEM,
Coexistindo
No próprio facto
Da forma que lhe é dado ser,
PARA SER MESMO.



















" Pára com isso!
Fala-me do comboio. "

De repente, o mundo estacionara. Lá fora, através da janela, o desenho parecia estático, sem movimento, como em certos quadros a óleo...















Fôra tudo, breve paragem no apeadeiro mais próximo. A Coisa interrompera-se... mas eu sabia que ela regressaria; era somente uma questão associativa, e pronto: o pensamento é uma fatalidade: A COISA NÃO PODE DEIXAR DE SER.
" O que é a Coisa ", perguntou o poeta: eu poderia dizer-lhe que a Coisa, é justamente aquilo que está por detrás daquilo que não tem antes nem depois, e que só a partir do momento em que fôr significada, pode ter isso... isto é; ser limitada... mas ás vezes, o poeta cansa-me.
















Esta idéia nesta tentativa, tem
a sua evidência: evidência essa, que vai desde o ser á relatividade infinita, na qual o pensamento brilha com a sua mágica do real, enquanto na aparência do visível, há só um gesto por classificar: para cá disto, não está o tempo da minha percepção.














" O que está em vez disso? "

- O NÃO-SER!...














" Precisamente aí

Ao reflectires,
Estarás uma vez mais
Contemplando para cá... "

- Contemplando tudo aquilo
Que me é anterior,
Ou porque a minha subjectividade
Não quer ficar sepultada
Em seu silêncio...
Aguardará
Que o desconhecido se mostre...
Direi melhor:
ESPERA PELA MARÉ.
Ou espera nascer,
Tal como a Daniela Rocha refere
Naquela sua foto da haste de palmeira.














( Foto de: Daniela Rocha )

Lembras-te?...

" Sim!....Essa foto é fantástica,
Plena de significado!...
Mas e o silêncio?...
Que silêncio é esse!? "

Subitamente, alguns ruídos vindos de fora, acentuaram mais o ambiente do meu compartimento.



















" Porque te calas? "


- LÁ ESTÁ!...
E se houvesse qualquer coisa
Do lado de fora!?...

" Do lado de fora!? "

- Exactamente aí!...
SEM LADO DE FORA
As esferas
Giraram cá dentro...











" Brincas comigo! "

- Se te explicasse, não compreenderias...
Contudo,
Tentarei dar-te pelo menos
Uma aproximação:
Há pouco,
Aqueles ruídos
Libertaram-se do peso e do atrito.
Eles me fizeram vêr
Todo o comboio por fora...














" Mas tu disseste
SEM LADO DE FORA!... "

- Por fora só eu estou,
Vê se compreendes!...

" Sim...
E mais? "

- O meu olhar cá dentro
Estende-se ao longo dos carris,
Como se ficasse em terra firme
Ao vê-lo partir...

" É curioso!...
Como a gente se engana...
Eu achava isso
Fácil de mais...
E a verdade, é que não sei
Aonde queres chegar...
E o que tento vêr é confuso...
Mas há outra coisa... "

- O quê?...

" Tu próprio és confuso! "














- Não...

Quanto a isso estás enganado...
O que se passa é o seguinte:
Este meu mundo,
Ou seja:
Esta maneira de vêr,
É já o próprio mundo
Em percepção constante,
Onde tudo é situação confusa
Por mais pormenorizado e explícito
Que eu procure ser!...



















" Talvez seja como dizes...
Mas prefiro que me fales do comboio... "

- Quanto a ele,
Só sei que em dada altura,
Tudo me era interior...

" Agora percebo... "

- Enquanto isso,
Um resto de luz
Tornava ainda visível
Aquela distância interna,
Na qual um outro tempo
Percorria de quando em quando
O espaço intransponível
Da minha curiosidade.



















" E o comboio? "

Reparem como ele pergunta pelo comboio... inconscientemente, recorda-se da infância... pobre poeta... é sem dúvida alguma, uma perfeita criança.














" Então? "


- O comboio?...

" Sim. "

- Em sentido inverso ao tempo,
Seguia um outro rumo
DENTRO DE MIM...



















" Compreendo perfeitamente. "

- Ainda bem...

" Só não entendo a tua intenção... "

- É fácil!
Quero voltar a amar!...










" Ok, ok...
Mas porque motivo devo esquecer o comboio? "

- Essa imagem rídicula
Terá de ser anulada,
Tal como a criança em ti!...
O que é importante
É viveres o presente da narrativa.

" O que devo saber então? "

- Enquanto expus o que expus,
O que ficou no teu inconsciente?...

" Não sei! "

- Concentra-te!...

" Espera... é isso!...
UM RESTO DE LUZ... "



















( Foto de: Daniela Rocha )


- Meu caro:

Em quase tudo,
A LUZ É TUDO...

" Porque não em tudo? "

- Porque não existe tudo!...
Essa
É a razão ainda
Pela qual a Coisa não pára...













" Claro!
Esse ainda... "

- AINDA BEM!...

" Mas então, como é?...
Tu próprio disseste
Que a Luz é tudo!... "

- Neste caso
LUZ É LIMITE;
Ou seja:
Em certo prisma
A Luz não evolui,
Caminha apenas no tempo...














OU MELHOR:
No tempo do espaço,
E para não dizer o contrário
Dir-te-ei:
A Luz é o próprio tempo,
Na medida em que Luz
É TEMPO ILUMINADO.

" O que queres dizer com
UM OUTRO TEMPO? "

- O MEU.

" É engraçado...
Para cá de outras coisas,
Sinto que há qualquer coisa...
Qualquer coisa de místico na Luz! "

















- Apenas a nossa compreensã
o
ESTÁ LÁ...
E quem sabe realmente?...
Contudo, agora
Falar-te-ei de OUTRA LUZ...

" De qual? "

- Daquela que imobiliza
O sinal do silêncio
Do tempo humano...












" A que te referes? "


- Á dos teus sonhos,
Aonde não existe tempo algum.

" Será que nos sonhos,
O silêncio vem da escuridão? "

- A qual silêncio fazes referência?...

" Ao dos sonhos!... "














- AÍ NÃO HÁ SILÊNCIO!...


" PORQUÊ?... "

- Não há razão para tal!...

" O silêncio está sempre
DO LADO DE CÁ? "

- Aí mesmo!...
E não será
Para que a Luz tenha movimento...









" Não perguntei isso! "

- Antecipei-me á pergunta!...

" E para cá daí?... "

- Tudo é já em seu silêncio,
Ou muito antes da razão
Poder vir a ser
ALGUMA COISA MAIS...

" A razão evolui?... "

- TRANSFORMAR-SE-Á!...

" Mas a Razão

A Moral e a Justiça,
Não são Valores Eternos?... "

- NUNCA FORAM!...
Já te respondi a isso uma vez:
Com o tempo
TUDO MUDA...















" E a Eternidade? "


- É por enquanto contrária
Á razão da razão...

" É pena... "

- Pois é!...
Começas a saber
Que o Homem só descobre
O que já existe
EM SEU NADA AUTÊNTICO,
Em seu mundo inventado...
OU PORQUE AINDA,
Toda a semente humana
Terá dentro de si
UM OUTRO HOMEM QUE NÃO FALA

















E que não pode libertar-se...

" Porque não?... "

- É melhor pensar nisto mais tarde...

A viagem aproximava-se do destino, Ela esperava-me... e os meus receios, dúvidas e desejos aumentavam agora de intensidade, e por muito que eu tentasse controlar-me, a ansiedade escorria literalmente pelas minhas mãos, insistindo em lembrar-me o quão nervoso estava... de repente, a Coisa voltou. Apoderou-se de mim e segredou-me:














" O teu tempo

Por detrás
Daquilo que já conheces,
Circunda o espaço
Que forma cada coisa.
Enquanto a noção de matéria
Será alterada cada vez mais
Pela insistência reflexiva,
Ao alcance da distância. "

Deveria haver nisto ou para isto, uma referência a um outro tempo que não o meu. Referência a outras cores e ás formas da paisagem futura, mas isto é ainda inconsciente. Essa insistência reflexiva e organizada, subsiste para que a idéia de eternidade permaneça, ao mesmo tempo em que o Universo continuará a ser paralelo á transformação do seu humano ser.
Quando dei por mim, tinha chegado... e o ponto de partida estava já reflectido no passado.
Tudo aquilo, ou para aquilo em que não pensei em meu próprio tempo, estava ali, bem vivo ainda, em plena recordação naquela janela...



















" Esse - AINDA -

É pura recordação!... "

- Que sabes tu?...
Esse AINDA
Era mais do que para isso...
E no entanto
Era coisa aparentemente estática...

" O que se passou depois?... "

- Somente uma dúvida me assaltava...

" E qual?... "

- Aquela que provém dos sonhos
Ou sei lá de quê...

" sim, mas qual!?... "

- Será que Ela vai gostar de mim?...



















" E então!?... "


- Mais tarde
Conto-te os pormenores...

Súbitamente,
Uma voz trémula, interrompera-me a reflexão:



















" - Já é uma hora? "


" - Já! " Disse eu.

Dizemos que sim a tudo
Quando queremos que nos deixem em paz.

Boa semana!



















( Um tema: " MEMORIES " Rosenberg Trio )


- Proporcionaste-me um dia ( inesquecível ) de felicidade plena, Danishe...

Kanimambo, my love.

Pain-Killer

4 comments:

Rocha de Sousa said...

meu caro, acabei de viajar pelo seu excelente devaneio, viagem também entre o nascer do sol e o pôr do sol, retalhos do ser, angústia e paixão e achamento, um
sopro de vida onsagrado pela vela bruxeliando. Enigmático como sempre,mas poeticamente romântico.
Enquanto isso, colocava eu marcas nos meus bloques pelas mortes de Álvaro Lapa e Cesariny, que não escreveram aqui mas desenharam no sangue da vida.
Saudações e parabéns
Rocha de Sousa

naturalissima said...

Peixinho

Esta foi uma viagem da qual fiz parte,... esperando-te, igualmente ansiosa, acompanhada de dúvidas, medos, espectativas, e ao mesmo tempo de uma força da qual procurava manter para meu próprio control e para poder receber-te de braços abertos e..., ao teu ouvido dizer: Já está! Finalmente juntos!
Correspondeste com um abraço apertado e umas palavras soltas que me soaram ao longe: Cheiras bem!

Miguel, também foi para mim um dia inesquecível, único, especial...
e kanimambo por teres vindo ao meu encontro.

*No dia seguinte saiu a noticia que encontraram dois peixinhos fora do ocanário de barbatanas dadas... o resto não foi para contar.

Com amor, beijo-te
Daniela

naturalissima said...

És um ser muito BELO!
Fazes-me sentir uma mulher diferente.
Kanimambo, meu molungo LINDO.
Amo-te
Daniela

jawaa said...

Que viagem linda partilhada!
Parabéns a quem alia escrita e imagens desta forma bela e também à sua musa.
É assim o Amor!
Um abraço aos dois.