( 1839-1906 )

Tenho-o entre os meus pintores favoritos do século XIX. Numa constelação que é também habitada por, Renoir e Franz Marc, Paul Gauguin e Van Gogh ou mesmo Amadeo Modigliani ... são estes, personagens raras de um mundo secreto que pertence , no meu museu pessoal, á raiz do VÊR.
Gosta-se dele como se gosta de certos livros ou de certas peças musicais, de certos filmes e de outros raros encontros desta ordem.
Ou como se gosta de " certas pessoas ", porque por detrás de cada uma, como de cada obra destes artistas, existe algo que nunca se revela na totalidade, que resiste, que permanece intocável e fechado dentro de si, gerando entre aqueles que partilham esse afecto, uma espécie de comunidade secreta, intimamente ligada pelas estrictas razões dessa afeição sem propósito nem utilidade.

E no entanto,
LEVES,
AGÉIS,
DELICADAS,
E BREVES,
Como uma canção que passa...

Resistem ao tempo,
Precisamente porque parecem,
Dele e de suas leis, estar suspensas...
Nunca modernas, mas nunca também mais arcaicas do que o pão ou do que a mesa, quase rugosas, bruscas, que lembram o toque forte do linho ou da estopa, são ao mesmo tempo nítidas, no recorte preciso de quem as olha no sentimento de uma espécie de doce e infinita melancolia.

E embora tristes como um um amor não correspondido, irradiam uma força de contenção e de espera, tal o olhar de um animal acossado num obscuro recanto de qualquer floresta. Tenho para mim, que tais pinturas guardam através dos tempos e espaços, e muitas vezes até a rebelia de todos os jogos instituintes das histórias de arte, algo que caminha contra a história, que não se compadece dela, mesmo se com ela coabita, permanecendo na sua redoma, na sua esfera própria, sem nunca se deixarem contaminar por nada. Sendo obscuras e secretas, têm todavia uma influência estranha sobre o mundo, porque agem, a partir dessa condição, como forças poderosas, onde de vez em quando outros vão beber, porque são como fontes miraculosas de invenção e de preservação dos mitos mais essenciais.

Espectrais, coloridas e de um silêncio inquietante, as obras de Paul Cézanne pertencem, ao domínio em que se esconde ou se guarda o próprio mito da pintura, a carne da pintura, a raíz de uma visão que raras vezes é concedida a quem pinta e a quem vê. Mas que no entanto alimentam a pintura de uma espécie de serenidade, e de uma garantia de retorno, mesmo quando sobre ela pairam já as mais graves ameaças de extinção.Mas são também luminosas e quentes, alegres e robustas como uma manhã de Sol.
Que mistério é o seu, que tanto nos chega a comover?

Ouvi-o então, que não vou repeti-lo :

-E O MISTÉRIO CEGO DA PINTURA!
Pain-Killer
2 comments:
não é um dos meus pintores favoritos... mas é um dos Grandes, sem dúvida!!! :) já o franz marc ou o chagall, por exemplo, deixam todas as minhas serpentes enfeitiçadas... ;)
Compreendo Medusa...A arte provoca paixões,e tal como no amor reflecte-se nas formas mais variadas.Porém Cézanne é indubitavelmente um dos gigantes do impressionismo...
Gostei de saber que Chagall(um dos meus eleitos)provoca esse efeito nas tuas cobrinhas.
( Tens bom gosto, Medusa...fiquei petrificado! )
Obrigado plo comment,Medusa...
Fica bem ;-)
Post a Comment