Tuesday, September 27, 2005


"BODE EXPIATÓRIO"


A tendência para encontrarmos pessoas ou situações, que sirvam de "bode expiatório"para os nossos problemas e fracassos,é uma forma de vivermos como vitímas de uma complicada teia de relações.
A crítica permanente pressupõe uma incapacidade de assumir a responsabilidade pelos próprios actos.

É curiosa esta necessidade que as pessoas têm de culpar os outros,por terem destruído a sua existência,quando elas próprias o fazem tão bem,sem a ajuda de ninguém...
Culpar sistematicamente os outros pelos nossos fracassos ou pequenas contrariedades do dia-a-dia é um hábito infeliz,que sem darmos por isso,nos mina o carácter,entorpece a imaginação e perturba a afectividade,deixando-nos cada vez mais impotentes perante os obstáculos que vão surgindo ao longo da vida.

Quando não fazemos alguma coisa que poderíamos ou deveríamos ter feito,é normal sentirmos desapontamento ,frustração.Sentirmos remorsos e corrigirmos o que fizemos de errado,faz parte da aprendizagem.

Cultivada na literatura,a maledicência geral não se limita a apontar fraquezas alheias,mas a sublinhar o rídiculo das situações.Ao longo da história houve vários escritores que,com maior ou menor talento,se dedicaram á "arte de maldizer",explorando a veia humorística através de obras burlescas,divertidas,sem pretensões...
A crítica de costumes,quando bem enquadrada,faz-nos pensar,rever conceitos e valores,leva-nos a ser mais condescendentes,menos moralistas.Mas há que ter maturidade emocional para aceitar uma boa crítica com "fair-play".
Fechados no egoísmo,no culto da afirmação social,desvalorizar o próximo dá-nos a grata ilusão de aumentar o valor."Não,não..não estou a dizer mal dele (ou dela),só estou a dizer a verdade..."
Não estaremos,na realidade,a encobrir o prazer subtil de desvendar as misérias alheias,recorrendo por vezes a comiserações hipócritas?
O mexerico,a má-língua,a devassidão da vida dos outros nasceram provavelmente mal o homem começou a falar.A comunicação é uma necessidade natural,mas na maioria das vezes não medimos as consequências das nossas palavras.Falamos por falar,para passar o tempo,mas as palavras podem converter-se muitas vezes em "lâminas afiadas" e impiedosas para com a fragilidade humana. Fazemos juízos de valor baseados em simples suspeitas que supomos fundadas e ainda tentamos justificar esta atitude com boas intenções.Para muitos de nós é um divertimento sem importância,mas pode tornar-se muito destrutivo.


Ao procurarmos causas exteriores para as nossas dificuldades perdemos a capacidade para ver as coisas melhor.Pensarmos que o mundo deveria ser perfeito é uma ilusão e dalguma forma um pretenciosismo sem nexo.
A injustiça e desigualdade fazem parte da vida e temos de aceitar que ,mais cedo ou mais tarde nos confrontaremos com comportamentos negativos e injustos.
Um sinal de maturidade emocional é a capacidade de evitarmos exercer represálias contra quem nos prejudica.Deixar crescer a fúria,disparar em todas as direcções,impede-nos de analisar friamente as situações,corrigindo-as de uma forma construtiva.Cada problema que enfrentamos é o "nosso"problema,independentemente de quem é o responsável.
A mudança nunca partirá dos outros,mas sim de dentro de nós mesmos.



Até sempre...





Pain-Killer

4 comments:

Talk Talk said...

Espero que esse até sempre não seja uma despedida.
Um abraço.

Miguel Baganha said...

Certamente que não,Talk...a não ser que eu deixe de gostar "disto"!
(O que é pouco provável...)

1Grande abraço!

layoli said...

"falamos por falar", pero pienso que no todas las personas pueden herir con la palabra.
Que no siempre hieren las palabras.
Y que si las palabras te hieren es porque estás demasiado pendiente del lenguaje hablado y te olvidas de los otros lenguajes, los que sólo se observan o se sienten, porque esos son los que no mienten.

"Sabré que no me quieres cuando me lo digan tus ojos".

Morfeu said...

Neste texto revelas uma personalidade muito forte e um pensamento muito completo da vida. Parabens por este retrato que eu considero fiel.