Saturday, September 17, 2011


A COR NÃO É COR DE COISA ALGUMA (II)








- Gostas da minha presença?...

"Nem sempre...
Às vezes és implacável!...

Mas, apesar de tudo,

É bom estar contigo..."

- Fiz-te uma pergunta:

O que represento para ti?...


"É coisa que ignoro."
















- Então quero que saibas:
Aquilo

Que há pouco foi representação,

Já não é!...










"E aquilo que é agora?"

- Já deixou de ser!...


"O círculo fechou-se?"


- Ilusoriamente
Assinala ainda um regresso:

Tal como a onda

Que vai e volta,

Mas quando volta

Não é a mesma.















"Não é novidade nenhuma!...
Tudo terá a sua representação..."


- Claro!...
Para ti isso chega-te...
Mas uma só representação que seja
Terá infalivelmente
Um mar cheio de coisas
Para serem descobertas...
Para isso, impõe-se a palavra indicada...




"Representação?...

- Decididamente:
Representação
é,
De forma enigmática
,
O que muito me atrai,

Algures,

No mais profundo do meu inconsciente.













"Tudo quanto te deixa suspenso
É somente pressentido?..."


- É algo de sensível,

Habitando silencioso

Em sua estrutura transcendente,

E de qualquer modo

Sujeito à minha apreensão...

De certa maneira,

Penso tratar-se de mim.


"O que pretendes?..."


- Que te cales!...

Agora o instante é mais preciso,

Precioso!...


"O que se passa?..."













- Este,

É pois o momento exacto,

Quase exacto

De cerrar os olhos

E penetrar no próprio instante.


"Não é possível!..."


- Pois não...
A coisa foge,

Dirigindo-se ao passado

Sem deixar de ser presente,

De estar presente.

Contudo, insisto!...

À medida em que me concentro,

Julgo ver uma forma circular

De cor lilás:

Preocupação nítida

No qual um núcleo informe,

Alaranjado,

Aparece de vez em quando

Como se fosse o meu próprio rosto,

Esboçando-se...

Ou como um ninho de ideias abstractas

Progredindo em sua transição...















"Porquê alaranjado?"

- O alaranjado é normalmente

O sintoma de ideia em mim.

Necessariamente,

Alguma coisa aspira ao concreto

De uma forma dizível,

Emergida

Em seu tempo determinado

Pelo nada de si que sou.

Neste momento

Mostra-se como objecto indecifrável,

Como tendência para a ideia...

Terei somente de aguardar.


"Aguardar o quê?"


- Lá está!...
Já não duvido...

A cor é tudo nele,
Já não é dispensável...

Aguardemos...















"Mas de que falas?..."

- De mim,

Do meu objecto.


O «meu objecto» tem momentos em que me escapa, deixando clara uma insinuação de ausência negativa...tal como o rosto que me foge. E essa insinuação é minha, por enquanto
sou eu que hesito.

"Por enquanto?!..."


- Sim!...

«Por enquanto»,

Não é mais que incapacidade
Nem menos que renúncia...

Apesar disso,

Espero a todo o momento

Poder converte-la

Naquilo que me agrade,

Naquilo que espero ser

O que já sou.








"Espero ser o que já sou?!"

- Ser para mim

Depois de reflectir.


" Ao menos

Que não te faça hesitar!..."


- Ou que não me dê nunca

A possibilidade de noção errada...
Estarei atento.

Claro que uma coisa destas

Jamais dará a possibilidade

Duma entrega total,

Definitiva...

Essa possibilidade

Só poderá ser minha:

Tudo dependerá de mim,

Da minha afinidade com ela,

De mim para mim.








"O que se passa?"

- O que sucede neste instante

É que esta insuficiência

Se lhe introduz...


"Não percebo essa linguagem!..."


- Opõe-se à essência provável

Daquilo que procuro compreender

E ser...

O melhor é concentrar-me de novo

E tentar ver a situação mais de perto.
















"O que vês?..."

- Nesta subjectividade,

O assunto parece ser também a cor.


"E quanto ao núcleo?"


- Nele encontrará provavelmente

A verdade da ideia esboçada.

Enfim...

O meu rosto autêntico.















"Ideia sobre cor?
Sobre ti?..."


- Talvez...

Como tal,

Esta ideia ainda abstracta

Tenta impor-se-me

Onde o ponto central da questão

É, na verdade, o próprio núcleo.















"Será então aí que terás de ler!..."

- Tudo indica

Ser um núcleo sem cores precisas...
Será o mesmo que dizer:

A cor aspira para mim

Em ser cada vez mais viva,

Mais forte...
















"Mais capaz?"

- Resoluta!...

Nesta perspectiva,

É tentativa de acepção!...


"E quanto à cor,

Será sempre cor?"

- Sempre cor!...












Neste momento, reparo e concluo que, afinal, aquela parte central não é ainda alaranjada...eis que o rosto se escapa de novo.

"Mas dirige-se para isso?"

- Para a ideia!...


"És doido!..."


- Só agora começo a perceber,

Ou seja:

A desconfiar...

"A desconfiar de quê?!"


- Não sei verdadeiramente

O que pretendo...








"Se é que pretendes!"

- Mas se pretendo,

Já tento decidir...


"Decidir?!..."


- Evidentemente que isto

É uma força de expressão,

No entanto

Sei que alguma coisa está para nascer...

De qualquer maneira

Tudo gira em volta da cor.


Entretanto começo a ver ou a sentir qualquer coisa, mas sem saber bem o quê...se é algo sobre a cor ainda não se revelou...mas o que vier só poderá ser a cor agindo sobre a cor até permanecer um rosto. Enfim, agora vejo com mais nitidez, mais concretamente que sem cor nada poderá ser visto que dimensão é esta?

"A quem perguntas?"


É engraçado...mas já calculava, agora o núcleo não se vê. Aquilo que há pouco era ainda uma razão abstracta, neste momento não passa de ausência o meu rosto escapa-se. Unicamente o que vejo, ou julgo ver, é a lembrança de ter visto o que vi. A par disso, a ideia ficou e creio ser esta: através do tempo, através dos ciclos, de negação em negação, a cor terá atingido um grau de perfeição mais elevado. A cor, como razão principal da forma, enquanto a qualidade, por sua vez, terá sido constantemente um claro sintoma de coisa evoluída, sempre no sentido de permanência de querer ficar o mais possível.

"É por consequência uma intenção!..."


- Sem dúvida!...
Mas também penso que isto

É ambição...


"Ambição?

Em que sentido?..."


- Preocupação inconsciente,
Não para perdurar,

Mas enfim:

Para não deixar de perdurar:

É nisso a cor
,
Enquanto a forma aguarda...















"Continua..."

- Ao cumprir-se o ciclo da cor

Há indiscutivelmente um retorno,

Um regresso ao mesmo local

Para retomar nele

Uma actividade de aperfeiçoamento.

Por esta ordem de ideias,

Também o Homem renasce para isto.


"A cor

Terá existido sempre?"
















- Desde que a luz é luz.
Mas depois do motivo

Em que se torna cor,

Depois ainda,

E para cá de toda a afinidade,

O aspecto variado da Natureza

Reflecte aqui e ali

O estado em que se encontra,

Dando a entender que a cor

Esta para cá do sintoma...

O que, verdade seja dita,

Não constitui novidade alguma!...


"Ah, agora percebo..."


- Tens a certeza?...

"Claro que sim!."


O poeta até pode ter percebido, porém, o que ele não sabe é que quanto mais souber mais desconfiará. Neste instante, por exemplo, sinto que todas as cores não só reflectem nela, na cor, uma determinada fase da sua evolução, como demonstram, por outro lado, toda a sua significação situacional: a cor evolui.


(Um tema: "LAMENT" - Crimson Jazz TRIO)
(continua)

Boa semana!


Pain-Killer

2 comments:

Rocha de Sousa said...

Como comentar o incomentável? Como
dizer o sentido do que não tem sentido,apenas beleza, mais visual do que literária? Como lavrar sentença positiva ou negativa sobre as areias mil vezes indagadas, o poeta quase sub-
merso na sua névoa de inocência, poeta não poeta,num clamoroso erro de «casting», pois só ele deveria estar habilitado a falar pelo sonho, pelo onírico, mesmo que usasse a linguagem do engenheiro informático, perto e longe das
obscuras verdades da ciência, fora
da existência, do ser, do aparecer.
Paradoxo e lógica afundada em lama,
o discurso geral é uma viagem que
se desprende da nossa vontade de
leitura para nos comprometer pro-
fundamente com o mundo das «ilus-
trações», fotos inenarráveis, coi-
sas do aqui e do universo, muta-
ções, simbioses, inquietação líri-
imagems talvez vindas de outro uni-
versos, a triliões de anos luz de
distância. A nossa razão enbranque-
ce, há agora uma certeza plasmática
que desfoca e rasura os diálogos sem a verdadeira marca da grandeza.

Seja como for, parabéns por tudo.

Rocha de Sousa said...

Numa análise prospectiva, inventiva,
sensorial,nota-se que o autor aspira
ao advento da cor como revelação de si a si mesmo, concluindo pela neces-
sidade das estruturas cromáticas em todos os casos do ver por todos os casos do ser.

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