Tuesday, October 05, 2010


SOBREVIVER

PARA NÃO FIC
AR PRESO NO ACASO



Esta tarde, o poeta foi de novo procurar-me no meio da cidade. Cada rosto reflectia indistintamente a expressão de um outro ao cruzar-se com ele. Os estigmas entrechocavam-se, repelindo-se. Noutras ocasiões quase se fundiam em associações diversas, sem contudo deixarem de ser repetitivas, - para que ele se afastasse mais de mim?, não, claro que não! - porém, uma coisa é evidente: é verdade que as pessoas ignoram o melhor que têm.

"Que dia horrível!...
Hoje é um daqueles dias..."














-
Sim! É um daqueles dias
Em que é conveniente sacrificar
Qualquer coisa...
Por isso sinto um terrível ciúme!...














"Ciúme?!..."


- É uma antipatia,
E em simultâneo
Convicção...
E a verdade é que esta vida
É perturbada por uma entrega total...
Um autêntico desassossego.


















Depois,

No todo desse homem incompleto,
A arte dá-nos o que nos dá...
E pelos conceitos,
Pelas fórmulas...














"Pelos convencionalismos?..."


- Pela experiência
Transformada em cultura...
E sem poder estar fora
Não me vejo dentro!...














"Onde estás, então?"


- No insolúvel.
E concluo até ao nada,
Que o próprio nada
Pode ser explicado por palavras...














"É bom que assim seja!..."


- Já não vale a pena rir...

"Tudo isso equivale a quê?.."

- Ao desacordo!...














"Não só..."


- Antes de mais,
Lê isto...


















"Isto?..."


- Sim...

Isto não é a intenção de me calar:
Em certo prisma é uma sobrevivência...
E sobreviver
É refugiar-me na exigência
De não querer ficar ...


















"No acaso?..."











- Precisamente.


(Um tema: "CONCERTO D'ARANJUEZ" -
- do álbum: Jim Hall Concierto)

Boa semana!

Pain-Killer

1 comment:

naturalissima said...

Ao atravessar nas imagens simbolicamente bem escolhidas para este diálogo, senti um crescente desassossego em mim.
Senti nas palavras uma mistura de pensamentos inquietantes e paradoxais de alguém que vive esta passagem numa distância de um tempo valioso, num acto necessário e importante para a história mas que desacredita no verdadeiro valor e sentido que se dá hoje.

Será que nos faltam hoje aqueles homens de coragem de há 100 anos para que Portugal tivesse outro rosto?!?

A primeira fotografia levou-me a pensar assustadoramente na falta de identidade de um povo, da globalização, perda de valores humanos, massificação socio-político.
Preocupa-me o nosso futuro...