Thursday, May 28, 2009


À ESPERA DO IMPREVISTO















À medida que a manhã avançava admiti ser urgente pensar nalguma coisa. Então, o poeta experimentou, dizendo para mim:

" O crepúsculo desta manhã

Será ainda
O desta noite que se aproxima? "

- Não!
Haverá nele
Uma série de alterações sensíveis

Que jamais serão vistas

Em seus instantes próprios.














" Ó inconsciência de esferas,
Manhã,

Libertação... "


- Sim, poeta...
E isso se prolonga
Em todos os sentidos.


" O que estamos aqui a fazer? "


- Quase nada...













Estamos por enquanto limitados,

Esperando ansiosos pelo imprevisto.














Ele nos obrigará

A reflectir de novo.

Boa semana!


( Um tema: " SILENCE " - Charlie Haden )


Pain-Killer

2 comments:

Rocha de Sousa said...

Em boa verdade, o imprevisto não se
espera, acontece. Neste caso, a es-
pera tornou-se paradoxo: manhã cre-
puscular, desaproximação da noite.E
o que é o imprevisto? Pelo que nar-
ra a consciência do poeta, o impre-
visto deifica-se,passa e não se dá por ele, gare vazia, deserto do mundo e logo as traseiras do com- bóio. Não era o imprevisto, nem a vida o é, nem um combóio sem para- gem, vogando para nenhuma parte com o seu carregamentos de mortos.
«Manhã.. Libertação...» Os presos escapam à noite, como sempre, e cedo percebem que a libertação não os conduz a nada nem ninguém. O
júbilo do autor diz que esse gue-
to da liberdade se prolonga para todos os lados.
«O que estamos aqi a fazer?» É o poeta a perguntar, no fundo quem somos: e afinal está na imagem: o fim da linha, metáfora da morte. Isso é o que nós somos, seres com-
plexos mas para a morte. Veja-se o
optimismo do bloguista: «Estamos por enquanto limitados, esperando ansiosos pelo imprevisto». Para um optimista congénito, um pontapé nas
barreiras pode honrar novo começo. Desta vez, felizmente, não é preci-
so comer a maçã. Basta apanhar aquele figo e comê-lo com casca. E
já é certo, em todo o caso, que os
combóios deixaram de passar ali. O
figo será um novo pecado original?
Ele hesita perante esta voz que de súbito o habita. O figo,como pare- ce óbvio, é o imprevisto. Mas o ho-
mem não quer correr mais riscos: esmagará o fruto com o pé e voltará
a pé, no sentido da linha. Terá muito tempo para reflectir. Mas o que ele não sabe é que o início da
linha já se encontra enerrado. Sem
linha, nem combóios, o deserto à sua frente, perceberá então que irá morrer ali, vítima do maior im-
previsto de sempre.
Rocha de Sousa

naturalissima said...

Tem sido difícil para mim comentar este imprevisto.

Não deixa de ser inesperado ler-te dentro destes diálogos, é surpreendente quando neles tocas em pontos pouco argumentados.
A forma original como abordas esses estados da nossa essência, enquadrados em cenários aparentemente comuns do dia a dia, ajuda-nos a reflectir melhor sobre a nossa existência.

É um trabalho fantástico e isso de certeza que te vai ajudando a colocar mais questões sobre o teu "eu" e a encontrares algumas respostas.

A sequência fotografica é muito bem colocada dentro da linguagem do enquadramento do espaço e conteudo. As tonalidades escolhidas para o efeito imagem é fundamental nestes casos onde vão transmitir o estado de espirito dos personagens.

Não querendo entrar em pormenores, quis fugir deste imprevisto, talvez porque já estou em ti..., sempre estive... sinto-te aqui junto de mim.

Parabéns pela simplicidade com que tocaste esta melodia tão íntima, tão bela como as cores que usaste para completar o sentimento.

Beijo-te com amor
dani