Tuesday, January 22, 2008

NA TAL TARDE
DO ANO SEGUINTE





















Qualquer coisa como o tempo, decorre sem pressa, enquanto que no rosto das pessoas a tarde diminui cada vez mais.

- Poeta!
Porque estás calado há tanto tempo?...

" Tenho estado a pensar... "

- Em quê?!

" Dizem que o mundo é um palco
Onde se representa a vida!... "














- É uma bela metáfora, poeta...
No entanto,
Representar ou não, pouco adianta:
O Ser-Humano se fosse autêntico,
Não necessitaria de representar!
Seria igual a si próprio:
ÚNICO!...




















É claro que isto
Não passará nunca duma utopia.

" Fala-me de um lugar
Aonde nunca estaremos. "

- NÃO TENHO FALADO
DE OUTRA COISA!














" Mas podes falar-me de algures

Em especial?... "

- Como quem conta uma história?

" Pode ser... "

- Algures...
Nesse teu futuro,
Uma moeda completamente gelada
Habita ainda

NO FUNDO DO POÇO














Ocupando o lugar da razão,
Apesar disso ninguém desconfia...

" De quê? "

-Não interessa...
Tentemos imaginar como é
A CONSCIÊNCIA HUMANA.














" Não sei se consigo... "

- O que é mais fácil reluz sem aparência!
IMAGINA-A AGORA:














" Sim...
Consigo vê-la...
Ali! "

- « Ver é compreender »...
No ent
anto, no teu caso, penso que algo ficou para trás: - Alguns segundos - ; dirão as pessoas...
É provável que tenhas i
maginado a sua forma visual e inerte, mas será isso suficiente para compreenderes a sua acção?!

" O que não compreendo
É essa dialéctica... "


- É a dialéctica dos elementos
ESTÁTICO-DINÂMICOS!



















( Pintura digital de: Rocha de Sousa )

" Fala-me concretamente... "

- Concretamente, falo do « Homem-Estático-de-Falsa-Dinâmica » que não usa a sua « própria gravata », traz sempre a gravata do outro igual à do outro.
Ele mantém uma atitude de falsa-dinâmica, estagnada e submissa, ás vezes chegando a ser duma hipocrisia obscena, e no entanto diz-se inconformado com tudo o que lhe é imposto. Enfim, um extremo paradoxal que vê os seus lamentos como a forma mais expressiva de se manifestar.
Mas não me parece que
FALAR COM UMA PAREDE













Fará a coisa mudar...


" Existe outra solução? "


- Penso que sim...
O Homem terá que pensar por si mesmo, e para isso: cada um de nós terá de sair dos seus actos, dos seus próprios hábitos: dinamizando-se individualmente...
Mas também há aqui uma certa
INDEPENDÊNCIA MECANIZADA














funcionando num circuito redundante, mas muito específico...
Assim como uma espécie de vai-vem...


" Como uma porta de salão
Dos westerns antigos?... "

- Ou coisa parecida.

" É igual em todo o lado? "

- Não podia deixar de ser.
É uma sociedade com os seus direitos apropriados...
Uns são simples, e vivem

ENCADEADOS














Numa linguagem lírica e
acessível que todos entendem.
Outros são cultos e entendem-se vaidosamente por palavras pomposas, mas haverá sempre neles uma expressão simpática usada por conveniência .

" Para não dizeres por hábito? "













- Ou isso!...


" Enquanto falam
Distorcem as suas intenções... "













- Pior ainda, é vê-los cobardemente envergonhados

Da pureza oculta, mas debaixo de cada gesto está a denúncia:
O elemento abstracto inconsciente, que conduz à farsa.

" De que lado estão os autênticos? "

- SÃO TODOS IGUAIS!...



















" Semelhantes? "

- GÉMEOS ENTRE SI














Sem qualquer distância
Na incapacidade indolente dos anseios...

E não sabem:
" Que o Homem é capaz
De ser

O que pudera ser capaz.

Ou capaz

De ser

Gesto de provir
A partir do instinto animal. "















E por enquanto não poderá ter outra escolha...
Por não ser ainda verdadeiro nos seus sonhos.

" Pensando bem:
É quase um mito;
Uma classificação! "

- Sim... mas para cá do mais,
É extremamente necessário
Saber-se o que é aquilo
A que chamamos Homem...

" Mas o Homem não é
Aquilo que sabemos dele? "


- Não...
Aquilo que sabemos dele,

SÃO ATRIBUTOS



















QUALIDADES



















Dessa tal coisa a que chamamos Homem,
E que eu teimo em saber o que é...
Contudo, ele é ainda
o que não terá de ser.

" De ser!? "

- DE SER



















Na realidade longínqu
a icognoscível,
Procurada dentro de si.
Isto significa que, em qualquer dos casos:
É apenas mais um nome torneando a verdade.
Um nome sem essência, por enquanto...

" O Homem
É realmente estranho... "

- Pressinto que essa coisa
É cada vez mais estranha na medida em que se
aperfeiçoa.

" O que será o Homem? "


- O Homem
Não é ainda
O HOMEM.




















Ele é precisamente a abstracção

Daquilo que não é um homem...
Seria melhor se estivesse mais
PARA CÁ DE SI!



















" Mesmo assim é um milagre! "

- Assim parece, poeta... mas saber-se que pensa, e que a maravilha está no seu prodigioso englobante, não é ainda o verdadeiro milagre:
O milagre, está muito para cá da

CONCEPÇÃO HUMANA.



















Ele está
, não em saber como o pensamento acontece mas justamente em saber que se encontra no lugar do acaso da causa, e que possivelmente será a causa
Para o absoluto de si próprio.
Senão repara: Se me disserem que pensam, não poderei deixar de perguntar: como foi possível o pensamento?, e mais ainda:
O QUE É PENSAR?
Sim...
se me disserem que pensam por isto ou por aquilo, farei de novo a mesma pergunta...
, que dizes tu a isto?...

" Eu?
- PENSO QUE PENSO -
O que o Homem pensa.

E se penso,

É por querer comunicar
Contigo mesmo,
E simultâneamente

Não quero ficar só
... "







- É bonito!...

Mas aqui,
Mais não fizeste do que dar
Um colorido filosófico à tua poesia...


" Poesia!?
A propósito:
O que pensas acerca dela? "

- O que penso?, já te disse uma vez:
Acho que a poesia
Está fixa numa paisagem irreal.

Ou seja: parece ser
AQUILO QUE NÃO É!...














" Vamos pôr as cartas na mesa! "


- Isso não vai alterar a minha posição, mas o que tiveres a dizer diz!...

" Tu precisas da minha presença!... "

- Confesso que sim...
Mas há uma coisa que
tem de ficar bem clara: cada qual na sua natureza...
Teremos que obedecer a isso!...

" Separados? "














- Dificilmente seremos um só!...

" Foi sempre o que quiseste? "

- Não!...

" E quanto ao Homem? "

- Quanto a ele, dir-te-ei:
Se isso a que chamam Homem, quiser descer ao
FUNDO DO UNIVERSO














( Foto de: Rocha de Sousa )

Terá de ser o menos lírico possível...
Terá de continuar neste jogo murmurando para si:

" Se tenho consciência deste eu,
Compreenderei

Que se trata de um eu

A ter consciência de outro... "

Só assim a minha consciência mesmo determinada se manifestará, obrigando-me a concluir que ela ou qualquer outra coisa mais, nunca poderia decidir por si mesma.

" Mas apesar disso
Não deixará de perguntar:
QUEM SOU? "



















- Estás certo...
E isso significa que estás atento.


( Um tema: " AIR FOR G-STRING- J.S.BACH " -
- Modern Jazz Quartet & Swingle Singers )

Boa semana!

Pain-Killer

4 comments:

naturalissima said...

Miguelindo do meu coração, não tive ainda tempo para ler este longo post! Mas fiquei maravilhada com o teu trabalho fotografico. Fotos realizadas por ti ... e muito bem tratadas. Algumas delas darão belos quadros ;-) em tela...
Volto novamente para comentar melhor o conteúdo do mesmo.

Beijo-te com muito amor
Danielatua

naturalissima said...

Voltei ;-)
Regresso de uma viagem fantastica que fiz nas tuas fotografias. Torno a falar nelas, porque vejo uma "evolução" no registo do teu olhar e no tramento das mesmas.

Despertaste em ti palavras, poesia, sentimento em forma de imagens.
A verdade encoberta nelas, é feita de mentiras, ilusões, sonhos, fantasias... ou por outra, tudo isto transforma-se na verdade de cada um de nós, dependendo da nossa sensibilidade e honestidade.

Descreves o tempo em nós como escasso, perdido numa vida, num mundo fútil de mentiras, de enganos propositados levando o Homem a sobreviver numa verdade artificial, falsa, de consumo brutal, de orgulhos egoistas e mesquinhos, guerras sem fim...
Este é o dito palco da VIDA!

Vai-se lá falar da natureza da vida! Somos nós que a fazemos...Uns com amor, outros odiando e ainda há os que vivem num absoluto vazio...

Miguelindo, já se sabe que destes posts, se exploram variadissimos assuntos... e ao longo dos nossos encontros, dos momentos que passamos (sempre) juntos, vêm ao de cima temas e situações que temos tido oportunidade de os discutir.

Sei que em breve teremos a chanse de poder contemplar estas fotografias noutra dimensão, noutro contexto, noutra realidade linguística. ;-)
Força amor meu de sempre... quero ver-te a caminhar por caminhos mais abertos, livres, com a verdade em palcos da vida.

Deixo-te com um peixinho dos nossos.
Hehehehe...
até já
com amor
eutua

Rocha de Sousa said...

Depois de ver as as ruas à noite, escuras e mal iluminadas, apenas com rasgos de luz emergindo de tabernas com portas entreabertas, eu voltava ao meu quartinho de pensão e começava a escrever sobre a origem dos nossos sonhos assim, o fedor da carne e do vinho, tudo em palavras adjectivantes, no fun- do de um começo uivante e plangen- te. E também lia os filósofos, e os que falavam deles ou com eles, desfiando essa teia abismal da da «origem da tragédia», do homem que possui a mãe, do irmão que entra docemente no ventre da irmã, «impossibilidades» que os gregos transgrediram diante da mul-
dão sentada nas pedras, em alar- gada cartarse. Ainda não era um mundo absurdo, era um mundo do pecado, cercado de proibições e de deuses fáceis e fúteis. Mas a «vi-
sibilidade» do absurdo começara a
nascer nas penas aplicadas a Pro-
meteu, a Sísifo, a tantos outros
inventados pelo corte feito na vi-
da, golfadas de sangue além das prodigiosas e deseperadas orgias
romanas. Todos mo limite, como o Miguel entre perguntas obtusas e respostas sem sentido, Beckett quase por ali, Magritte a dizer que um cachimbo não era um cachimbo, porque o primeiro era apenas pintado, o verdadeiro, igualzinho,nem sequer estava dentro dos nossos olhos, porque dentro dos nossos olhos estava a imagem do cachimbo pintado, que justamente não era um cachimbo.
O que é dinâmico nessa dialéctica é como a falsa dinâmica do homem no espaço: ou seja, quando se transforma em pedra e ali fica,
imóvel, insensível à dinâmica das
moléculas e dos átomos. As imagens
do Miguel, concordando ou discor-
dando das palavras, fazem contudo
alguns racords, vibram entre si.
Mas o desabar do imaginário chega
a esse espaço, carregado de mons-
tros, cerca-nos nas ruas à noite,
enquanto as frases do mundo, mur-
muradas no início do inferno, di-
zem a dimensão do nosso ser absur-
do, à beira do fio da calçada, uma
chuva miuda a molhar-nos a cabeça,
a cabeça daquele magnífico «repli-
cante» que se senta no alto de um
edifício, aparentemente senhor da sua fisionomia biónica,mas incapaz de se suicidar, revoltado com o tempo de vida que deus, isto é, o homem,lhe atribuíu. Porque a sua espera,programa de andróide, é tão inútil como a humana. A diferença está no sentido que o homem pode conferir,pelo suicídio, à sua con- dição inominável.Eis porque Camus nos dizia, à flor da boca:«O único problema filosófico é o suicídio».
Rocha de Sousa

Carla said...

O tempo tomou conta da minha vontade… corre veloz ao sabor do vento…
Contudo… mesmo num desejo rápido, estou aqui… nem que seja apenas para desejar uma boa semana.
E parto… de novo sem promessas, porque não sei quando me será permitido voltar, fica então a vontade de regressar, um dia destes quando o tempo permitir…
Que fique o meu beijo e que dure pelo momento de ausência no espaço de um até breve.
Nadir