Friday, April 09, 2010


DE PERNAS PARA O AR


Claro que há diferenças, mas parece-me precisamente o dia anterior.

- Sab
es, poeta...
Aquilo que ficou por realizar,
Deveria fazer parte duma outra história...

" Como assim? "














- Tenh
o de escrever
A outra página...

" Qual página? "


















- O lado de cá
da verdade!
No qual se deveria ler:
Por mim,
Por direito próprio,
Pelo meu nascimento,
Por tudo
Que ainda houver de mais sagrado,
Nunca terei culpa!...

" Será possível? "

- Terei sempre razão
Em todos os meus actos!...


Efectivamente, todo o ser-humano, quer queira ou não, terá de se responsabilizar por uma culpa que não lhe pertence. Terá de ser culpado de ter o que tem e o que não tem; culpado de ter o que nunca terá: ter culpa.

" Ter culpa...
Convém ter isso? "


















- Assim
parece...
E, quem sabe?
Talvez seja mesmo necessário
Não usufruir já dos seus direitos.

" Isso é terrível!... "

- Não tanto...
É certo que há nisto
Um laivo de injustiça,
Mas, a injustiça
É mal que vem por bem...
Logo, o mal
Será o maior benefício
Que a humanidade já teve!...














" Não sei onde queres chegar! "

- Pois não!...
É que a Coisa aparece-me
Numa posição invertida:














De pernas para o ar.

" Será que tem de ser assim? "

- Assim mesmo!...
Ou porque ter de ser,
Será aceitar um jogo
Que à partida,
Estará irremediavelmente perdido!...













" Um jogo
? "

- Não é bem um jogo...
É qualquer coisa
Como quem está
Na frente dum espelho
E vê surgir um gesto
Que não corresponde
À mão que se levanta.


















" Sempre me intrigaram os espelhos... "

- A mim também.

(Um tema: "ARIO"-
- Dave Holland Quintet)

Bom-fim-semana!

Pain-Killer