A COR
NÃO É COR DE COISA ALGUMA (III)- Poeta!
Onde estás?...
"Aqui."
- Repara no ambiente desta paisagem:
Cada cor que parece ser,
Necessariamente constituída em si,
Não representa, de modo algum,
Ambiente estético:
É redondamente falso!...
Isso é assunto dos pintores
E dos poetas.
"Isso é comigo?"
- Cala-te!...
Penso ainda que cada cor
Corresponderá inegavelmente,
E de forma inequívoca,
Não a uma casualidade banal,
De estar ali por estar,
Mas logicamente por representar
Uma diversidade de elementos
Integrados num sistema progressivo,
Cuja função de estrutura
Determinará necessariamente
Mudanças de cor.
"E o teu rosto?"
- Cala-te!...
Daí para cá, pergunto-me:
"Será mesmo assim?"
- Não importa...
O que sei é que me agrada!...
"Se for assim é belo..."
- Observemos melhor:
Enquanto o fenómeno subsiste,
A cor é sempre cor.
Embora mude de tom...
"Será?..."
A verdade é que se a matéria deixasse de ter cor, deixava de ser vista...será que a matéria é cor?...das duas uma: ou a matéria é cor ou a cor é matéria.
"E porque motivo
Não há-de ser tudo cor?..."
- Tudo cor?!...
Não, não é má ideia!...
Contudo, pensemos melhor:
Se a matéria
Fosse simplesmente cor,
A cor, por sua vez,
Teria todos os predicados
Que ainda hoje
São atribuídos à matéria...
"Mas assim
Nunca mais se pensaria nela!"
- Certamente que não!...
Demonstrando:
Se pegares num simples fruto,
E o abrires
Até às últimas consequências,
Não poderás ver nele outra coisa
Senão a cor no estado sólido.
"No estado sólido?!"
- Poeta!
Imagina só:
A cor no estado líquido!...
"O que dirão os pintores?..."
Evidentemente que esta expressão não é assunto para eles... Esses, quando se referem a cores quentes ou frias, ou quando fazem alusão a cores vivas e mortas, só poderão dizer que a cor já não é aquilo que era, e que em lugar disso adquiriu forma. Só que até os pintores, na devida altura, se interrogarão: «a cor, é cor de quê?...»
- De coisa nenhuma!...
Nada tem cor!...
"Nada tem cor?!...
Como explicas isso?..."
- Nada existe a não ser cor!...
"Espera...
Nem mesmo à cor,
A cor é cor?..."
- Também não:
Uma vez que não é cor
De coisa alguma.
"Continua..."
Ao chegar aqui compreendo que não me vale de nada continuar. É mais conveniente deixar o caso em sua origem aparente, declarando que aquilo que há pouco foi representação, já não é... Aquilo que é agora já deixou de ser - o círculo fechou-se, mas ilusoriamente assinala ainda um regresso.
"Qual?..."
- O meu rosto está de volta!...
(Um tema: "ONE TIME" - Crimson Jazz Trio)
Bom fim-de-semana!
Pain-Killer
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