Friday, September 16, 2011


A COR
NÃO É COR DE COISA ALGUMA (III)






- Poeta!
Onde estás?...


"Aqui."

- Repara no ambiente desta paisagem:
Cada cor que parece ser,
Necessariamente constituída em si,
Não representa, de modo algum,

Ambiente estético:
É redondamente falso!...

Isso é assunto dos pintores

E dos poetas.


"Isso é comigo?"















- Cala-te!...
Penso ainda que cada cor

Corresponderá inegavelmente,

E de forma inequívoca,

Não a uma casualidade banal,
De estar ali por estar,
Mas logicamente por representar
Uma diversidade de elementos
Integrados num sistema progressivo,

Cuja função de estrutura

Determinará necessariamente

Mudanças de cor.


"E o teu rosto?"


- Cala-te!...
Daí para cá, pergunto-me:

"Será mesmo assim?"


- Não importa...

O que sei é que me agrada!...
















"Se for assim é belo..."

- Observemos melhor:

Enquanto o fenómeno subsiste,

A cor é sempre cor.
Embora mude de tom...


"Será?..."


A verdade é que se a matéria deixasse de ter cor, deixava de ser vista...será que a matéria é cor?...das duas uma: ou a matéria é cor ou a cor é matéria.

"E porque motivo
Não há-de ser tudo cor?..."


- Tudo cor?!...
Não, não é má ideia!...

Contudo, pensemos melhor:
Se a matéria

Fosse simplesmente cor,
A cor, por sua vez,

Teria todos os predicados

Que ainda hoje

São atribuídos à matéria...















"Mas assim
Nunca mais se pensaria nela!"


- Certamente que não!...

Demonstrando:

Se pegares num simples fruto,
E o abrires

Até às últimas consequências,

Não poderás ver nele outra coisa

Senão a cor no estado sólido.

















"No estado sólido?!"

- Poeta!

Imagina só:
A cor no estado líquido!...



















"O que dirão os pintores?..."


Evidentemente que esta expressão não é assunto para eles... Esses, quando se referem a cores quentes ou frias, ou quando fazem alusão a cores vivas e mortas, só poderão dizer que a cor já não é aquilo que era, e que em lugar disso adquiriu forma. Só que até os pintores, na devida altura, se interrogarão: «a cor, é cor de quê?...»

- De coisa nenhuma!...
Nada tem cor!...

"Nada tem cor?!...

Como explicas isso?..."
















- Nada existe a não ser cor!...

"Espera...

Nem mesmo à cor,

A cor é cor?..."


- Também não:

Uma vez que não é cor

De coisa alguma.


"Continua..."


Ao chegar aqui compreendo que não me vale de nada continuar. É mais conveniente deixar o caso em sua origem aparente, declarando que aquilo que há pouco foi representação, já não é... Aquilo que é agora já deixou de ser - o círculo fechou-se, mas ilusoriamente assinala ainda um regresso.


"Qual?..."

















- O meu rosto está de volta!...
 

(Um tema: "ONE TIME" - Crimson Jazz Trio)


Bom fim-de-semana!


Pain-Killer

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