Saturday, September 26, 2009
UM PORMENOR DE AUSÊNCIA
AMPLIADA INDEFINIDAMENTE
Às vezes considero ser necessário fugir à rotina, a todo o determinismo absurdo e cansativo. Para isso, sirvo-me da mente, que em geral tem o poder de me levar a espaços impenetráveis, intraduzíveis. Mas hoje, senti que podia ir mais longe, mais para dentro, mais longe de mim. Pois só assim, poderia encontrar naquilo, aquilo... aquilo que pudesse corresponder ao a-dimensional.
- Que mais poderá haver
Para não haver futuro?...
" Isso preocupa-te?!
Lá estás tu!... "
- O mal é estar...
Pensar é terrível!...
" Para onde estás a olhar? "
- Para cá!...
E se a outra coisa voltasse
Como daquela vez?...
" Qual coisa? "
- Um dia acontecera,
Como um tumor
Gerado cá dentro...
Era simples,
À primeira vista parecia benigno.
E porque era sombrio?...
" O que aconteceu? "
- Um dia rebentou!..
Era o que era,
Para dar origem à reflexão.
E a partir daí, nascer a morte...
E como não podia deixar de ser,
Germinaram as palavras.
" Ainda bem... "
- Mesmo assim,
Jamais as pedras
Alguma vez falariam por nós...
E por mais que quísessemos,
A verdade não desabrochava,
A não ser que a inventássemos.
" Mas qual verdade?
A que te referes?... "
- À única!...
Ao porquê do Universo.
" Dizes tu, que o Homem
Inventou essa verdade? "
- Essa verdade,
Essa resposta contínua...
E o mais ridículo,
É que ele tenta aperfeiçoa-la!...
" O fundamental,
É como tu dizes:
Saber o que se passa!... "
- Melhor dirias:
Saber o que não se passa!
Será que não vês!?...
A verdade é infinita,
Por isso não pode existir para nós.
" Então, como é? "
- Inventamos apenas conveniências...
Prescindimos unicamente
Da nossa realidade sempre esperada.
" De que falas? "
- Estou, como se vê,
A falar de esperança...
" Não é bom ter esperança? "
- É um mau sintoma!
" Significa que a coisa não vai bem? "
- É promessa contínua!
E quer queiras ou não:
Por ela, estaremos
Cada vez mais próximos
Daquilo que jamais existirá.
" Então,
O que é que não se passa? "
- O Impossível!...
O que não se passa,
Não tem motivo
Para se contrair até ao Infinito:
Ficará intacto de inexistência,
Onde essa verdade inventada
Estará
Cada vez mais sujeita a mutações.
" Então, sempre é verdade
Que não há verdade? "
- É essa a verdade:
Um pormenor de ausência ampliada
Indefinidamente.
Nada mais, meu caro...
A isto, o poeta nada responde... pode ser que mais tarde venha a compreender.
Bom-fim-semana!
( Um tema: " AVENUE STARS " -
- Charlie Haden )
Pain-Killer
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1 comment:
Eu tenho a sensação de que o poeta não responde porque ele trabalha com a ausência e a dilatação dela até ao nada.
Houve alguém que pensou a esperança
como a anunciação da morte, porque só morre com ela. Mas a morte tem tem que ver também com a explosão e implosão de todas as pulsões, desde as infintesimais,invisíveis, até ao bater dos corações ou à expansão e contracção a zero
das galáxias todas.
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