NA TAL TARDE
DO ANO SEGUINTE
Qualquer coisa como o tempo, decorre sem pressa, enquanto que no rosto das pessoas a tarde diminui cada vez mais.
- Poeta!
Porque estás calado há tanto tempo?...
" Tenho estado a pensar... "
- Em quê?!
" Dizem que o mundo é um palco
Onde se representa a vida!... "
- É uma bela metáfora, poeta...
No entanto,
Representar ou não, pouco adianta:
O Ser-Humano se fosse autêntico,
Não necessitaria de representar!
Seria igual a si próprio:
ÚNICO!...
É claro que isto
Não passará nunca duma utopia.
" Fala-me de um lugar
Aonde nunca estaremos. "
- NÃO TENHO FALADO
DE OUTRA COISA!
" Mas podes falar-me de algures
Em especial?... "
- Como quem conta uma história?
" Pode ser... "
- Algures...
Nesse teu futuro,
Uma moeda completamente gelada
Habita ainda
NO FUNDO DO POÇO
Ocupando o lugar da razão,
Apesar disso ninguém desconfia...
" De quê? "
-Não interessa...
Tentemos imaginar como é
A CONSCIÊNCIA HUMANA.
" Não sei se consigo... "
- O que é mais fácil reluz sem aparência!
IMAGINA-A AGORA:
" Sim...
Consigo vê-la...
Ali! "
- « Ver é compreender »...
No entanto, no teu caso, penso que algo ficou para trás: - Alguns segundos - ; dirão as pessoas...
É provável que tenhas imaginado a sua forma visual e inerte, mas será isso suficiente para compreenderes a sua acção?!
" O que não compreendo
É essa dialéctica... "
- É a dialéctica dos elementos
ESTÁTICO-DINÂMICOS!
( Pintura digital de: Rocha de Sousa )
" Fala-me concretamente... "
- Concretamente, falo do « Homem-Estático-de-Falsa-Dinâmica » que não usa a sua « própria gravata », traz sempre a gravata do outro igual à do outro.
Ele mantém uma atitude de falsa-dinâmica, estagnada e submissa, ás vezes chegando a ser duma hipocrisia obscena, e no entanto diz-se inconformado com tudo o que lhe é imposto. Enfim, um extremo paradoxal que vê os seus lamentos como a forma mais expressiva de se manifestar.
Mas não me parece que
FALAR COM UMA PAREDE
Fará a coisa mudar...
" Existe outra solução? "
- Penso que sim...
O Homem terá que pensar por si mesmo, e para isso: cada um de nós terá de sair dos seus actos, dos seus próprios hábitos: dinamizando-se individualmente...
Mas também há aqui uma certa
INDEPENDÊNCIA MECANIZADA
funcionando num circuito redundante, mas muito específico...
Assim como uma espécie de vai-vem...
" Como uma porta de salão
Dos westerns antigos?... "
- Ou coisa parecida.
" É igual em todo o lado? "
- Não podia deixar de ser.
É uma sociedade com os seus direitos apropriados...
Uns são simples, e vivem
ENCADEADOS
Numa linguagem lírica e acessível que todos entendem.
Outros são cultos e entendem-se vaidosamente por palavras pomposas, mas haverá sempre neles uma expressão simpática usada por conveniência .
" Para não dizeres por hábito? "
- Ou isso!...
" Enquanto falam
Distorcem as suas intenções... "
- Pior ainda, é vê-los cobardemente envergonhados
Da pureza oculta, mas debaixo de cada gesto está a denúncia:
O elemento abstracto inconsciente, que conduz à farsa.
" De que lado estão os autênticos? "
- SÃO TODOS IGUAIS!...
" Semelhantes? "
- GÉMEOS ENTRE SI
Sem qualquer distância
Na incapacidade indolente dos anseios...
E não sabem:
" Que o Homem é capaz
De ser
O que pudera ser capaz.
Ou capaz
De ser
Gesto de provir
A partir do instinto animal. "
E por enquanto não poderá ter outra escolha...
Por não ser ainda verdadeiro nos seus sonhos.
" Pensando bem:
É quase um mito;
Uma classificação! "
- Sim... mas para cá do mais,
É extremamente necessário
Saber-se o que é aquilo
A que chamamos Homem...
" Mas o Homem não é
Aquilo que sabemos dele? "
- Não...
Aquilo que sabemos dele,
SÃO ATRIBUTOS
QUALIDADES
Dessa tal coisa a que chamamos Homem,
E que eu teimo em saber o que é...
Contudo, ele é ainda o que não terá de ser.
" De ser!? "
- DE SER
Na realidade longínqua icognoscível,
Procurada dentro de si.
Isto significa que, em qualquer dos casos:
É apenas mais um nome torneando a verdade.
Um nome sem essência, por enquanto...
" O Homem
É realmente estranho... "
- Pressinto que essa coisa
É cada vez mais estranha na medida em que se aperfeiçoa.
" O que será o Homem? "
- O Homem
Não é ainda
O HOMEM.
Ele é precisamente a abstracção
Daquilo que não é um homem...
Seria melhor se estivesse mais
PARA CÁ DE SI!
" Mesmo assim é um milagre! "
- Assim parece, poeta... mas saber-se que pensa, e que a maravilha está no seu prodigioso englobante, não é ainda o verdadeiro milagre:
O milagre, está muito para cá da
CONCEPÇÃO HUMANA.
Ele está, não em saber como o pensamento acontece mas justamente em saber que se encontra no lugar do acaso da causa, e que possivelmente será a causa
Para o absoluto de si próprio.
Senão repara: Se me disserem que pensam, não poderei deixar de perguntar: como foi possível o pensamento?, e mais ainda:
O QUE É PENSAR?
Sim...
se me disserem que pensam por isto ou por aquilo, farei de novo a mesma pergunta..., que dizes tu a isto?...
" Eu?
- PENSO QUE PENSO -
O que o Homem pensa.
E se penso,
É por querer comunicar
Contigo mesmo,
E simultâneamente
Não quero ficar só... "
- É bonito!...
Mas aqui,
Mais não fizeste do que dar
Um colorido filosófico à tua poesia...
" Poesia!?
A propósito:
O que pensas acerca dela? "
- O que penso?, já te disse uma vez:
Acho que a poesia
Está fixa numa paisagem irreal.
Ou seja: parece ser
AQUILO QUE NÃO É!...
" Vamos pôr as cartas na mesa! "
- Isso não vai alterar a minha posição, mas o que tiveres a dizer diz!...
" Tu precisas da minha presença!... "
- Confesso que sim...
Mas há uma coisa que tem de ficar bem clara: cada qual na sua natureza...
Teremos que obedecer a isso!...
" Separados? "
- Dificilmente seremos um só!...
" Foi sempre o que quiseste? "
- Não!...
" E quanto ao Homem? "
- Quanto a ele, dir-te-ei:
Se isso a que chamam Homem, quiser descer ao
FUNDO DO UNIVERSO
( Foto de: Rocha de Sousa )
Terá de ser o menos lírico possível...
Terá de continuar neste jogo murmurando para si:
" Se tenho consciência deste eu,
Compreenderei
Que se trata de um eu
A ter consciência de outro... "
Só assim a minha consciência mesmo determinada se manifestará, obrigando-me a concluir que ela ou qualquer outra coisa mais, nunca poderia decidir por si mesma.
" Mas apesar disso
Não deixará de perguntar:
QUEM SOU? "
- Estás certo...
E isso significa que estás atento.
( Um tema: " AIR FOR G-STRING- J.S.BACH " -
- Modern Jazz Quartet & Swingle Singers )
Boa semana!
Pain-Killer
Tuesday, January 22, 2008
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4 comments:
Miguelindo do meu coração, não tive ainda tempo para ler este longo post! Mas fiquei maravilhada com o teu trabalho fotografico. Fotos realizadas por ti ... e muito bem tratadas. Algumas delas darão belos quadros ;-) em tela...
Volto novamente para comentar melhor o conteúdo do mesmo.
Beijo-te com muito amor
Danielatua
Voltei ;-)
Regresso de uma viagem fantastica que fiz nas tuas fotografias. Torno a falar nelas, porque vejo uma "evolução" no registo do teu olhar e no tramento das mesmas.
Despertaste em ti palavras, poesia, sentimento em forma de imagens.
A verdade encoberta nelas, é feita de mentiras, ilusões, sonhos, fantasias... ou por outra, tudo isto transforma-se na verdade de cada um de nós, dependendo da nossa sensibilidade e honestidade.
Descreves o tempo em nós como escasso, perdido numa vida, num mundo fútil de mentiras, de enganos propositados levando o Homem a sobreviver numa verdade artificial, falsa, de consumo brutal, de orgulhos egoistas e mesquinhos, guerras sem fim...
Este é o dito palco da VIDA!
Vai-se lá falar da natureza da vida! Somos nós que a fazemos...Uns com amor, outros odiando e ainda há os que vivem num absoluto vazio...
Miguelindo, já se sabe que destes posts, se exploram variadissimos assuntos... e ao longo dos nossos encontros, dos momentos que passamos (sempre) juntos, vêm ao de cima temas e situações que temos tido oportunidade de os discutir.
Sei que em breve teremos a chanse de poder contemplar estas fotografias noutra dimensão, noutro contexto, noutra realidade linguística. ;-)
Força amor meu de sempre... quero ver-te a caminhar por caminhos mais abertos, livres, com a verdade em palcos da vida.
Deixo-te com um peixinho dos nossos.
Hehehehe...
até já
com amor
eutua
Depois de ver as as ruas à noite, escuras e mal iluminadas, apenas com rasgos de luz emergindo de tabernas com portas entreabertas, eu voltava ao meu quartinho de pensão e começava a escrever sobre a origem dos nossos sonhos assim, o fedor da carne e do vinho, tudo em palavras adjectivantes, no fun- do de um começo uivante e plangen- te. E também lia os filósofos, e os que falavam deles ou com eles, desfiando essa teia abismal da da «origem da tragédia», do homem que possui a mãe, do irmão que entra docemente no ventre da irmã, «impossibilidades» que os gregos transgrediram diante da mul-
dão sentada nas pedras, em alar- gada cartarse. Ainda não era um mundo absurdo, era um mundo do pecado, cercado de proibições e de deuses fáceis e fúteis. Mas a «vi-
sibilidade» do absurdo começara a
nascer nas penas aplicadas a Pro-
meteu, a Sísifo, a tantos outros
inventados pelo corte feito na vi-
da, golfadas de sangue além das prodigiosas e deseperadas orgias
romanas. Todos mo limite, como o Miguel entre perguntas obtusas e respostas sem sentido, Beckett quase por ali, Magritte a dizer que um cachimbo não era um cachimbo, porque o primeiro era apenas pintado, o verdadeiro, igualzinho,nem sequer estava dentro dos nossos olhos, porque dentro dos nossos olhos estava a imagem do cachimbo pintado, que justamente não era um cachimbo.
O que é dinâmico nessa dialéctica é como a falsa dinâmica do homem no espaço: ou seja, quando se transforma em pedra e ali fica,
imóvel, insensível à dinâmica das
moléculas e dos átomos. As imagens
do Miguel, concordando ou discor-
dando das palavras, fazem contudo
alguns racords, vibram entre si.
Mas o desabar do imaginário chega
a esse espaço, carregado de mons-
tros, cerca-nos nas ruas à noite,
enquanto as frases do mundo, mur-
muradas no início do inferno, di-
zem a dimensão do nosso ser absur-
do, à beira do fio da calçada, uma
chuva miuda a molhar-nos a cabeça,
a cabeça daquele magnífico «repli-
cante» que se senta no alto de um
edifício, aparentemente senhor da sua fisionomia biónica,mas incapaz de se suicidar, revoltado com o tempo de vida que deus, isto é, o homem,lhe atribuíu. Porque a sua espera,programa de andróide, é tão inútil como a humana. A diferença está no sentido que o homem pode conferir,pelo suicídio, à sua con- dição inominável.Eis porque Camus nos dizia, à flor da boca:«O único problema filosófico é o suicídio».
Rocha de Sousa
O tempo tomou conta da minha vontade… corre veloz ao sabor do vento…
Contudo… mesmo num desejo rápido, estou aqui… nem que seja apenas para desejar uma boa semana.
E parto… de novo sem promessas, porque não sei quando me será permitido voltar, fica então a vontade de regressar, um dia destes quando o tempo permitir…
Que fique o meu beijo e que dure pelo momento de ausência no espaço de um até breve.
Nadir
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