" BODE EXPIATÓRIO "
( Reedição )
A tendência para encontrarmos pessoas ou situações, que sirvam de " bode expiatório " para os nossos problemas e fracassos, é uma forma de vivermos como vitímas de uma complicada teia de relações.
A crítica permanente pressupõe uma incapacidade de assumir a responsabilidade pelos próprios actos.
É curiosa esta necessidade que as pessoas têem de culpar os outros, por terem destruído a sua existência, quando elas próprias o fazem tão bem, sem a ajuda de ninguém...
Culpar sistemáticamente os outros pelos nossos fracassos ou pequenas contrariedades do dia-a-dia é um hábito infeliz, que sem darmos por isso, nos mina o carácter, entorpece a imaginação e perturba a afectividade, deixando-nos cada vez mais impotentes perante os obstáculos que vão surgindo ao longo da vida.
Quando não fazemos alguma coisa que poderíamos ou deveríamos ter feito, é normal sentirmos desapontamento, frustração. Sentirmos remorsos e corrigirmos o que fizemos de errado, faz parte da aprendizagem.
Cultivada na literatura, a maledicência geral não se limita a apontar fraquezas alheias, mas a sublinhar o rídiculo das situações.
Ao longo da história houve vários escritores que, com maior ou menor talento, se dedicaram á " arte de maldizer ", explorando a veia humorística através de obras burlescas, divertidas, e sem pretensões...
A crítica de costumes, quando bem enquadrada, faz-nos pensar, rever conceitos e valores, leva-nos a ser mais condescendentes, menos moralistas. Mas há que ter maturidade emocional para aceitar uma boa crítica com " fair-play ".
Fechados no egoísmo, no culto da afirmação social, e desvalorizar o próximo, dá-nos a grata ilusão de aumentar o valor. " Não, não..não estou a dizer mal (dele ou dela), só estou a dizer a verdade... "
Não estaremos na realidade, a encobrir o prazer subtil de desvendar as misérias alheias, recorrendo por vezes a comiserações hipócritas?...
O mexerico, a má-língua, a devassidão da vida dos outros nasceram provavelmente mal o homem começou a falar.
A comunicação é uma necessidade natural, mas na maioria das vezes não
medimos as consequências das nossas palavras.
Falamos por falar, para passar o tempo, mas as palavras podem converter-se muitas vezes em " lâminas afiadas " e impiedosas para com a fragilidade humana. Fazemos juízos de valor baseados em simples suspeitas que supomos fundadas e ainda tentamos justificar esta atitude com boas intenções. Para muitos de nós é um divertimento sem importância, mas que pode tornar-se muito destrutivo.
Ao procurarmos causas exteriores para as nossas dificuldades, perdemos a capacidade de vêr as coisas da melhor forma. Pensarmos que o mundo deveria ser perfeito é uma ilusão e dalguma forma um pretenciosismo sem nexo.
A injustiça e desigualdade fazem parte da vida e temos de aceitar que ,mais cedo ou mais tarde nos confrontaremos com comportamentos negativos e injustos.
Um sinal de maturidade emocional é a capacidade de evitarmos exercer represálias contra quem nos prejudica.Deixar crescer a fúria,disparar em todas as direcções,impede-nos de analisar friamente as situações,corrigindo-as de uma forma construtiva.Cada problema que enfrentamos é o " nosso " problema, independentemente de quem é o responsável.
A mudança nunca partirá dos outros, mas sim de dentro de nós mesmos.
( Um Album: " SIESTA " - Miles Davis )
Pain-Killer
Monday, October 16, 2006
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5 comments:
É muito dificil para o ser humano assumir que errou, mais fácil é culpar alguém por esse erro, de forma consciente ou inconsciente todos nós o fazemos. Mais uma vez uma excelente reflexão.
Beijos.
A indicação musical é soberba. Adoro Miles.
SER humano é ser passível de erros e de fracassos e de muitas outras mazelas. Quando apontamos a desgraça alheia é para nos distanciarmos das nossas próprias.
Infelizmente é assim.
Beijo grande.
Olá Copa, passei para te desejar uma boa semana... ando com o msn carcomido, eheheheh
Um abraço
O refúgio na desgraça dos outros é compensador. Baseia-se na comparação, eu estou bem porque aquele está pior...se ninguém estiver melhor que nós, então sentimo-nos muito bem. Nesta tentativa de nos sentirmos realizados atropelamos, dizemos mal, muitas vezes sem reparar que dizemos mal de nós próprios.
Falar é mais fácil, ser isento, fazer críticas construtivas não basta, é necessário um grau de pureza que não está generalizado.
Também acredito que a mudança tem de vir de dentro mas teria de ser simultânea, como um choque que a todos atingisse.
Gostei muito do texto.
Um abraço amigo Miguel.
passarei com calma para te ler entretanto se puderes passa no meu querido diário postei algo e nao podia deixar de fazer referencia a este teu espaço.
beijos
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