DE PERNAS PARA O AR
Claro que há diferenças, mas parece-me precisamente o dia anterior.
- Sabes, poeta...
Aquilo que ficou por realizar,
Deveria fazer parte duma outra história...
" Como assim? "
- Tenho de escrever
A outra página...
" Qual página? "
- O lado de cá da verdade!
No qual se deveria ler:
Por mim,
Por direito próprio,
Pelo meu nascimento,
Por tudo
Que ainda houver de mais sagrado,
Nunca terei culpa!...
" Será possível? "
- Terei sempre razão
- Terei sempre razão
Efectivamente, todo o ser-humano, quer queira ou não, terá de se responsabilizar por uma culpa que não lhe pertence. Terá de ser culpado de ter o que tem e o que não tem; culpado de ter o que nunca terá: ter culpa.
" Ter culpa...
E, quem sabe?
Talvez seja mesmo necessário
Não usufruir já dos seus direitos.
" Isso é terrível!... "
- Não tanto...
É certo que há nisto
Um laivo de injustiça,
Mas, a injustiça
É mal que vem por bem...
Logo, o mal
Será o maior benefício
Que a humanidade já teve!...
" Não sei onde queres chegar! "
- Pois não!...
De pernas para o ar.
" Será que tem de ser assim? "
- Assim mesmo!...
Ou porque ter de ser,
Será aceitar um jogo
Que à partida,
- Não é bem um jogo...
É qualquer coisa
É qualquer coisa
Como quem está
Na frente dum espelho
Na frente dum espelho
E vê surgir um gesto
" Sempre me intrigaram os espelhos... "
- A mim também.
(Um tema: "ARIO"-
- Dave Holland Quintet)
Bom-fim-semana!
Pain-Killer