Saturday, July 26, 2008


DIA SEGUINTE, DIA SEM DATA
II















Daqui a nada a tarde findar-se-à, coincidindo com o meu interesse por ela... e a esperança do poeta em voltar ao passado transferir-se-à uma vez mais para o dia seguinte.

- Em que pensas, poeta?...

" Naquilo que me contaste... "

- O que te contei
É uma angústia de certas tardes

Que não voltam mais...

Quem poderá voltar serás tu,


TU...
















A simpatia manchada q
ue tenho
Por toda esta passividade...


" Fala-me mais sobre o teu rosto
E as frustrações de outrora... "


- Ah, ficaste aí... pois bem:
Actualmente, este meu rosto

Tem outro desenho,


MAIS DESENHO


















E como tal, mais artístico.

Olha para isto:
Estas linhas acentuadas

Fizeram este rosto.

Um rosto sem sombras

Só pode ter uma expressão...

" Qual? "


- DE BONECA!...

















E depois, não é vivido...

Um rosto

Tem de ser quebrado

Por um leve abatimento de carne
s,
E por intermédio disso, virão as sombras...
Mas antes

Já lá permaneciam cert
as rugas:

RUGAS DE CONSCIÊNCIA













E entre elas, despontará magicamente

A personalidade do espírito.

De súbito, e sem me aperceber,

Desapareci da minha frente


DA FRENTE DELE.




















" Da frente dele?!... "


Dum momento a outro desapareci todo... eu já desconfiava... é isso!... Claro!... O meu rosto jovem existe ainda, só que não sabe quem eu sou, tal como o poeta. E para cá do mais, talvez seja mais fácil contar-lhe como sou do que explicar-lhe quem sou.

- Meu caro poeta:

Sei agora que esta dedicação

Aos belos momentos, não é só saudade...

Toda esta ansiedade retardada,

Está definitivamente ligada


AO JOGO DA VIDA




















E a todo o interesse do quotidiano.

Sei que trago no sangue
Aquela certeza,

De que no tal dia seguinte

Vou continuar a mesma procura

Com toda a minha tendência

Comigo próprio a luta de sempre...

E nisto,
está

A INDIFERENÇA PELA MORTE.





















" Levas longe demais o que pretendes!...

Quem pensas que és?... "


- SOU!...
Sou quando não quero

E quero

QUANDO NÃO SOU.


" Querer... "


- Quero!...
QUERO SEMPRE

Quando quero e não quero...

Enquanto que o outro,

É somente o que quero

QUANDO NÃO QUERO PARA MIM.

" Mesmo assim

Não deixas de ser egoísta!... "


- Podes dizê-lo...
Há até ocasiões
Em que acaricio o meu egoísmo.















" Quero ir embora... "


- Sim, vamos lá, poeta...

Talvez seja melhor.


( Um tema de James Cox: " NOBODY KNOWS WHEN YOU'RE DOWN AND OUT " -
- Versão de: Gene Harris )


Bom-fim-semana!

Pain-Killer

Wednesday, July 16, 2008

DIA SEGUINTE, DIA SEM DATA.















Como imaginar um dia sem data?... creio que é simples: principiemos por eliminar o número correspondente a um determinado dia da semana. Em seguida, fazer-se-à idêntica operação à sequência dos outros. O que fica então?, qualquer coisa como uma série de casas vazias. E para que diabo servem as casas sem ninguém?... e para que servem os dias da semana sem números?, e se ainda por cima não existirem números nas portas?...














Se uma cidade estiver completamente desabitada, quem poderá viver aí?... não, não é possível... nem mesmo o passado, porque ele
só poderá existir na consciência humana.


















Aqui está!... Há ocasiões como esta, em que fico inesperadamente só, e que nem de mim falo. Foi então que o poeta, quase a medo perguntou:

" Como eras tu na infância? "


A princípio não o ouvi, ou melhor; julguei ser eu pensa
ndo para mim...

- Já não me lembro...

Há muito que não recordo a infância...

Sim!...

Talvez seja melhor nomeá-la...

Espera,

Estou a lembrar-me...
















Tudo começou à beira-mar, na Foz do Douro.
Era uma tarde amarelada de Março, de céu azul brilhante... a cor era uma lâmina fria. O Sol era meigo e doentio... apesar disso, a tarde era um convite. Outrora teria sido outra coisa, prova de que tudo começa antes da altu
ra própria e nunca termina na ocasião indicada... e a noite bem o confirma.
Nesse momento, quis lembrar-me de mim noutros tempos...


" Como eras tu nessa época?
Que rosto tinhas?... "



















- Terei de procurá-lo cá dentro...

Sim... eu tinha um certo sorriso...

Correspondia

Àquilo que eu pensava da vida,

E até de mim.

Mas um sorriso só
Pouco me diz:









Terei de procurá-lo mais!...

CÁ ESTÁ!...



















Estou a ver-me um pouco melhor...

Se bem que, à medida em que me concentro

Não me vejo completamente:

O que vejo,

É somente um vulto

A escapar-me a cada passo...


" Concentra-te!... "


- De quando em quando

Reaparece mais nítido

O esboço do meu rosto jovem...


















A face lisa

DUMA IDEIA INGÉNUA.


" E o sorriso?... "


- É ele
ainda...
Claro que um rosto destes
Não é para mim

UMA OBRA DE ARTE:



















Mas sim, um motivo

Para me lembrar de frustrações antigas...


" Frustrações antigas?! "


- Sim, poeta...

Mas chega de recalcamentos,

Um destes dias conto-te mais um pouco.


" Já vais embora?..
.
Conta só mais um parágrafo "


- Não sejas chato... dói-me nas costas,
E além disso, fartei-me de estar aqui!

" Compreendo.

Queres vir passear no

Jardim do Gandhi? "


- Boa idéia, vem daí.

( Um tema: " DARN THAT DREAM"-
- Interprete: Dexter Gordon
)

Boa semana!


Pain-Killer